Como sou portador do tal cromossomo Y, quando quero conseguir certas coisas tendo a me comportar como um macho alfa. Mas, ao agir assim, em geral sou malsucedido. Será que não passo de um macho beta, gama ou outra letra grega indicativa de minha inferioridade no campeonato dos machos? Em vez de me considerar um fracasso, preferi aprofundar a análise. E cheguei a conclusões mais satisfatórias para meu ego.
Parece-me que, diante das violentas transformações das últimas décadas, o tal macho alfa está se tornando um modelo obsoleto por sua ineficiência. A emancipação das mulheres, a globalização, a internet e outras novidades criaram um novo jogo. Ele substituiu a regra anterior de "o-vencedor-leva-tudo". O mundo de hoje é mais complexo e mais interdependente. Neste novo mundo digital, consegue mais quem transmite melhor as idéias, negocia propostas e convence os outros a cooperar para ir na direção pretendida. Tente comandar unilateralmente, e você estará a caminho do fracasso.
Muitas empresas já perceberam que o sucesso depende mais da cooperação que da coação. Falar grosso nas organizações mais modernas não parece funcionar mais como antigamente. Quanto mais sofisticados ficam os processos e a produção, menos espaço existe para escravidão ou autoritarismo. Por isso, chefes tipo capataz estão sendo cada vez menos valorizados.
"Além de dividir as tarefas de casa, os novos pais querem mais intimidade na relação com os filhos"
Desde o século XX, as mulheres têm se libertado de várias condenações que lhes foram impostas pelo patriarcado, estão mais e mais educadas e certamente vão provocar cada vez mais mudanças na sociedade. Desde que o mundo é mundo, o crime, a violência e a barbárie estiveram sempre mais associados ao cromossomo Y que ao X. Nesse contexto, pode ser que o declínio dos machos alfa traga perspectivas mais sábias e venturosas para nós do sexo masculino.
RICARDO NEVES é consultor de empresas e autor de Pegando no Tranco - O Brasil do Jeito Que Você Nunca Pensou.Site: www.ricardoneves.com.br
Email: rneves@edglobo.com.br
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76422-6077-457,00.html
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