13.2.09

Somos Batman e Coringa...

Tanto Yin quanto Yang

BATMAN – Você estava me procurando. Aqui estou.

CORINGA – Eu queria ver o que você seria capaz de fazer. E você não me desapontou... (risos). Você deixou cinco pessoas morrerem. Depois você deixou Dent tomar o seu lugar. Mesmo para alguém como eu... É muita frieza.

BATMAN – Onde está o Dent?

CORINGA – Essa multidão de tolos quer que você se vá para que as coisas voltem a ser como eram. Mas eu sei a verdade – não há retorno. Você mudou as coisas. Para sempre.

BATMAN – Então por que você quer me matar?

O Coringa começa a rir. Depois de alguns segundos ele ri tanto que parece estar soluçando.

CORINGA – Matar você? Eu não quero matar você. O que eu faria sem você? Voltar a extorquir mafiosos e traficantes? Não, você... você me completa.

BATMAN – Você é a escória que mata por dinheiro.

CORINGA – Não fale comigo como se você fosse como eles – você não é, mesmo que queira ser. Para eles você é uma aberração como eu... Eles apenas precisam de você agora.
(Ele se dirige ao Batman como se sentisse piedade, pena…)

CORINGA – Mas logo que eles não precisem, eles pensarão em você como uma lepra.
(O Coringa observa Batman diretamente nos olhos. Procurando).

CORINGA – A moral deles, os códigos deles... É tudo uma grande piada. Esquecidos ao primeiro sinal de problema. Eles são bons somente até o ponto que o mundo lhes permita ser. Você verá – Eu mostrarei para você... Quando o mundo se despedaçar, estas pessoas civilizadas... Irão comer umas as outras. Viu? Eu não sou um monstro... Eu só estou um pouco além da curva...
(Trecho do roteiro original do filme “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, do diretor Christopher Nolan, roteirizado por Jonathan e Christopher Nolan, a partir de história criada por David S. Goyer e Christopher Nolan).

Yin Yang. Quente e Frio. Fraco e Forte. Bem e Mal. Não separe estas palavras utilizando “ou”. Use “e”. Não é possível divisar a linha que separa a sanidade da loucura, ela é certamente muito tênue.

Quando ainda adolescente, ainda iniciando meus escritos, mas desde então fadado a reflexões e idealismos, vi um dos colegas “capturar” de minhas mãos uma produção que havia realizado. Queria ele mostrar o texto para nossa professora de português para que ela emitisse opinião sobre este. Ao invés da crítica ferina ou do elogio fugaz, desconcertados a escutamos dizer que estava preocupada, pois imaginava ter sido tal texto escrito por uma pessoa com tendências suicidas...

Intrigante leitura... Compreensão de quem ainda pouco me conhecia, é certo. Tal paixão nutro pela vida que, se por certo me conhecesse um pouquinho, jamais diria isto. Mas será que sua interpretação não poderia ter algum fundamento? Afinal de contas, como dissemos logo ao início destas linhas, não dá para precisar se iremos salvar o sujeito que pensa em se jogar do prédio ou se iremos nos juntar a ele, não é mesmo?

E o que pensar do Cavaleiro das Trevas quando confrontado com seu arqui-inimigo, o Coringa, a descobrir que entre ambos há pouca ou praticamente nenhuma diferença? Ou ainda saber que o objetivo do vilão não é o matar, o destruír, mas sim, preservá-lo, pois o mundo sem o contraponto do pretenso herói para ele não teria sentido, significado...

Digno de piedade, Batman é obrigado a perceber o quanto há de verdade nas palavras nuas e cruas do deformado homem que se encontra na sua frente e também se percebe uma aberração, uma anormalidade, um tão deformado ser... Ambos matam e excedem os limites da lei, da normalidade... Tanto o herói quanto o vilão escondem seus traços por trás de máscaras e fantasias para não revelar suas verdadeiras identidades... Afinal de contas, quem são, o que são, o que representam?

Não creio ser possível entender o ser humano a partir de dualidades, como Yin Yang. Somos multifacetados e imprevisíveis mesmo quando não parecemos ser. Somos Batman e Coringa...

João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=1397

3 comentários:

José Antonio Klaes Roig disse...

Oi, Robson.Maravilha esse texto. Realmente essa dualidade, ou maniqueísmo só existe em telenovelas e telejornais. hehehehehe Somos seres complexos demais, multifacetados como o texto comprova. Adorei e vou divulgá-lo no LV. Um abração, e bom findi.

Robson Freire disse...

Olá Amigão

Gostei muito também justamente por causa dessa dualidade. Me lembrou uma moeda e as faces de uma mesma moeda.

A complexidade do ser humano é muito maior do que estamos hoje analisando sobre ela.

Li recentemente que o Mal mora dentro de nos, nas vive lutando com o Bem todos os dias. A força do Bem faz com que ele se sobressaia sobre o Mal, mas as vezes ele vence é o ser humano é capaz de atrocidades que nem o mais delirante pensador e capaz de imaginar.

Abraços

Radamanto disse...

Achei foda!!!

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