Gravadora foi a casa de Marvin Gaye, Stevie Wonder e Diana Ross.
Durante os anos 60, a Motown teve mais de 200 hits nos EUA.
Barry Gordy em frente aos estúdios da Motown. (Foto: Reuters)
Esta segunda-feira (12) marca os 50 anos em que o produtor e empresário norte-americano Barry Gordy, a partir de uma empréstimo de U$ 800, fundou em Detroit a gravadora Tamla – que em dezembro daquele ano viraria a Motown.
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Com 240 hits no top 40 das paradas norte-americanas entre 1962 e 1971, a Motown ajudou a inventar a black music moderna, influenciando grande parte da música pop, negra ou não, produzida em todo o mundo nas décadas seguintes.
A Motown gravava, produzia e lançava quase exclusivamente artistas negros – em uma época em que muitos dos estados dos EUA eram racialmente segregados, uma gravadora negra que se considerasse “o som da América jovem” (esse era o slogan da Motown, criado por Gordy) era um evento revolucionário.
Entre seus artistas mais famosos estão The Supremes, Marvin Gaye, The Temptations, Martha & The Vandellas, Stevie Wonder, The Jackson Five e Smokey Robinson & The Miracles. Do soul mais açucarado ao funk mais pesado, todos os estilos de música negra dos EUA foram representados pela gravadora durante o seu auge.
Linha de produção
O nome Motown (contração de “Motor Town”, cidade dos motores) é uma homenagem à cidade-natal da gravadora, conhecida por ser um pólo de montadoras de automóveis. A gravadora também funcionava como uma “linha de produção”, com times de compositores (como o trio Holland-Dozier-Holland e Smokey Robinson), e uma banda de estúdio entrosada (os Funk Brothers) produzindo hit atrás de hit, enquanto os cantores eram “profissionalizados” com cursos de dicção, canto e dança.
O conceito foi introduzido pelo próprio Barry Gordy, que, como cita uma reportagem da BBC, queria que a gravadora fosse “moldada pelos princípios que aprendi na linha de produção da (montadora) Lincoln-Mercury”. Para tanto, Gordy chegava a ter reuniões semanais de “controle de qualidade” com os produtores.
Essa estrutura ajudou para que, apesar das diferenças entre artistas, a Motown fosse um dos poucos selos “que constituem um gênero em si”, como definiu Peter Shapiro, autor do “The rough guide to soul and r&b”. Esse sistema de produção, aliado às melodias fáceis, o sucesso nas paradas e a falta de comprometimento político (durante muito tempo, todas as letras dos artistas do selo eram sobre amor), também renderam críticas ao selo.
“Na época, víamos Berry Gordy como antipolítico, alguém com medo de mudar as coisas”, diz o músico Robert Wyatt em uma matéria da revista “Mojo”. Mesmo assim a gravadora se envolvia involuntariamente em questões políticas – como em 1964, quando a música “Dancing in the streets”, de Martha & the Vandellas tornou-se um dos hinos da luta dos negros pelos direitos civis nos EUA.
Mudanças
Depois de revolucionar a música e o comportamento dos EUA durante os anos 60, em 1971 Gordy mudou a gravadora para Los Angeles. Os hits continuaram, com artistas como Jackson Five e com a carreira solo da ex-Supremes Diana Ross, enquanto a gravadora recebia aclamação da crítica pelos álbuns de Marvin Gaye (“What’s going on”, de 1971) e Stevie Wonder (“Talkbook”, de 1973).
Porém, a mudança foi “o prego no caixão do antigo sistema de estúdio” da gravadora, segundo Shapiro. O som da gravadora perdeu a personalidade. Em 1988, Gordy vendeu a Motown para a gravadora MCA por US$ 61 milhões. Depois de uma série de mudanças no mercado, a gravadora acabou sob o controle da Universal no final de 1998.
Em 2005 surge a Motown Universal Music Group, que inclui entre seus artistas cantoras de R&B como Erykah Badu, rappers como Q-Tip e inclusive a cantora pop e atriz Lindsay Lohan. Stevie Wonder, Diana Ross, Smokey Robinson e os Temptations ainda são contratados da gravadora.
Comemorar
“Agora é hora de comemorar”, diz Martha Reeves, líder da Martha & the Vandellas, hoje vereadora em Detroit. Os 50 anos da gravadora serão temas de diversos especiais de rádio na Inglaterra, França e Alemanha, informa o jornal “USA Today”. Em Berlin, estréia neste domingo (11) o musical “Memories of Motown”, com a participação de Reeves, dos Miracles e dos Contortions.
“O legado ainda é meu”, diz Gordy, em entrevista ao “USA Today”, “e de todos os artistas – estejam eles ainda aqui ou não. E isso é o que é importante para mim”. Mas a palavra final é de Duke Fakir, último dos Four Tops vivo. No ano em que os EUA terão seu primeiro presidente negro, Fakir acredita que a Motown ajudou na integração do país: “Foi um dos degraus nesta escada”, explica, “a música da Motown foi uma parte importante no processo de diminuir as tensões – pouco a pouco. E essa é a parte da qual eu realmente tenho orgulho”.
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